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domingo, 3 de junho de 2012

O taxista que gostava de jazz


Nada na manhã precoce do táxi acelerado condizia com o som que exalava das entranhas deste publico veículo de transporte personalizado.
Oito e cinco da manhã na curva da Sá da Bandeira, à saída do Teatro, escurecido e estilizado hotel sem palco, e um teatro de revista que não acorda do espetáculo da noite tardia.
Entre as curvas da rua, a Brasileira sorri detrás da majestosa fachada tolerante (pela idade e pelo estatuto) diante da imagem cinemática do mercedes, um milhão de quilómetros mínimo, coração ao alto mas cansado, que atacou a curva debaixo em duas rodas (um pouco de exagero de fita de animação) e encarquilhou a alcatifa de asfalto (o efeito é mais parecido com um levantar de ondinhas) com uma atlética travagem (eu juraria que a traseira levantou, outra vez duas rodas)
Sim, nada previa a harmonia do som de jazz e swing que se desembaraçava a cada solavanco da empedrada calçada do Sá da Bandeira, coração de leão da cidade.
Um bafo de tabaco entranhado e tardio espirrou pelas portas recém- abertas!
Um clube noturno sobre rodas que ainda não reabrira de um estonteante noite de swing?
Hot club do Porto em corrida contra os seus fantasmas, angra de heroísmo acima despenhando-se Campanhã abaixo
A ausência de sintonia entre o som leve, o odor pesado que não desanuviava com o fresco marítimo da manhã e o corpulento guardião da louca travessia do herbie...
Momento seguinte número 2;
Cabeça soerguida tronco de fora na passadeira da praça dos Aliados
As turistas com um olhar loiro e os corpos promissores que atravessam a passadeira em busca de um táxi que as leve a elas, e às pesadas bagagens, para o paraíso das companhias aéreas de baixo custo
Pedras Rubras
Taxi, turn right Taxi
Homem corpulento corpo de fora da janela.
Elas entenderam que o táxi bafo de onça estava ocupado mas que havia outros no turn right
Porque a cidade insiste nos táxis parados
E o swing barafustava ao longo do caminho em direção ao jazz final e definitivo.
“Estás a apitar porquê?”
Uma lata velha de um vermelho que apodrecia ao ar, e uma razoavelmente jovem refreava os ânimos mediante a visão do corpulento taxista.
Ela não conseguia mesmo passar por ali.
“A menina tem falta de jeito” – sussurrou entre dentes o taxista que gostava de jazz

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